Macumba é um termo geralmente pejorativo, como pessoas preconceituosas e sem conhecimento se referem genericamente a todas as religiões de matriz africana. Quase sempre, o termo é usado como sinônimo de “religião do mal”, “culto a demônios” ou “magia negra”. Especificamente “macumba carioca” é o nome que acadêmicos e estudiosos deram a expressões religiosas de matriz africana que eram praticadas no Rio de Janeiro até o começo do século 20 e que precederam a umbanda como existe hoje.
A concepção de macumba como “religião do mal”, “magia negra” ou “culto a demônios” é totalmente errada. Primeiramente, por chamar pelo mesmo nome uma diversidade enorme de religiões que, embora possam ser agrupadas no termo “matriz africana”, possuem muitas diferenças entre si. Segundo por considerá-las essencialmente maléficas, uma herança do preconceito da época da colonização do continente africano, em que o colonizador europeu considerava tudo o que vinha do povo negro como atrasado e “do mal”. Argumento que inclusive foi usado como desculpa para a escravidão, pois o negro não teria alma e escravizá-lo e catequizá-lo seria uma maneira de salvá-lo. Tudo em nome do amor de Deus!
Então, o que é macumba?
Originalmente, esta palavra se referia a um instrumento musical, similar a um reco-reco, que era usado em cerimônias afro-religiosas.
Segundo Omolubá, o instrumento musical denominado macumba é:
“Constituído de um tubo de taquara, onde são atritadas uma ou duas varetas: a macumba ficava entre a barriga do tocador e a parede. Muito semelhante ao ganzá”.
Também pode ter sido o nome de um tambor que era usado em ritos afro-religiosos, principalmente no Rio de Janeiro. Com o tempo, por extensão, passou a ser sinônimo de uma religião já extinta, que costuma ser chamada por estudiosos e historiadores de “macumba carioca”. Algo similar aconteceu no Rio Grande do Sul, em que o culto a orixá passou ser chamado de “batuque”, em referência ao som dos atabaques – a batucada – durante os ritos religiosos.
Macumba carioca como religião
Há poucos registros históricos sobre a macumba carioca. Os que existem mostram que se tratava de uma religião similar à também já extinta cabula e em vários aspectos à atual umbanda e a outras religiões afro-brasileiras, como o candomblé de caboclo.
Seu sacerdote era chamado de embanda, umbanda ou quimbanda. Seus ajudantes eram chamados de cambonos ou cambones. Os iniciados, como filhos de santo ou médiuns. Cultuavam-se orixás, inquices e santos católicos, que eram agrupados em falanges ou linhas, como Linha da Costa, Linha de Umbanda, Linha de Quimbanda, Linha da Mina, de Cambinda, do Congo, do Mar, de Caboclo, Cruzada etc. Também eram cultuadas entidades espirituais, como Mestres de Linha e Tatás. Tocavam-se instrumentos de percussão durante os ritos religiosos. Faziam-se oferendas e trabalhos espirituais para diversos fins. E era presente o sacrifício de animais, atualmente abolido na maioria dos terreiros umbandistas (com exceções).
Enfim, tratava-se de uma religião afro-brasileira sincrética, provavelmente com forte influência banto e também do espiritismo. Um culto religioso que não existe mais, cujos antigos praticantes acabaram migrando para formas mais contemporâneas das religiões afro-brasileiras, como a própria umbanda.
Segundo Reginaldo Prandi:
“Por muito tempo tanto os Candomblés de divindades africanas e os cultos que giravam em torno de Espíritos
brasileiros e europeus (isto é, o Candomblé de Caboclo, a encantaria de mina, o Catimbó ou Jurema dos
Mestres) permaneceram mais ou menos confinados a seus locais de origem. Mas logo no início de sua
constituição, com o fim da escravidão, muitos negros haviam migrado da Bahia para o Rio de Janeiro, levando
consigo suas religiões de Orixás, Voduns e Inquices e também a de Caboclos, de modo que na então capital
do país reproduziu-se um vigoroso Candomblé de origem baiana, que se misturou com formas de religiosidade
negra locais, todas eivadas de sincretismos católicos, e com o espiritismo kardecista, originando-se a chamada
Macumba carioca e pouco mais tarde, a Umbanda”.
Etimologia
Segndo o Dicionário Michaelis, do quimbundo, makumba. Segundo Ademir Barbosa Junior, é o plural de dikumba, “cadeado” ou “fechadura”, podendo talvez se referir a rituais de “fechamento de corpo”.
Ademir Barbosa Junior também levanta a hipótese de vir do quicongo macumba, plural de kumba, com o sentido de “prodígios”, “fatos miraculosos”.
Para Edison Carneiro, em seu livro Os Candomblés da Bahia, o termo vem do jongo (dança popular brasileira semi-religiosa de influência africana). Entre os jongueiros, existiria a figura do “cumba”, que seria o “jongueiro ruim, que tem parte com o demônio, que faz feitiçaria, que faz macumba, reunião de cumbas”.
Segundo a Apostila do Curso de Formação Sacerdotal da Federação Umbandista do Grande ABC:
“Macumba é uma palavra recente (aproximadamente cem anos), visto que João do Rio [em seu livro As religiões do Rio], em 1904, designa os cultos africanos aí existentes pelo nome de candomblés e não utiliza o termo macumbas.”
Outra possibilidade é que venha da palavra banto “makuba”, que significa reza ou invocação. Por fim, pode também vir de “makiumba”, que é o plural de “kiumba”, que significa “espírito”.
Referência
- Dicionário Michaelis
- Desvendando Exu – O Guardião dos Caminhos – Diego de Oxóssi – Edição do Autor (1a edição)
- Dicionário de Folclore Brasileiro – Luís da Câmara Cascudo – Ediouro
- Livro Essencial de Umbanda” text=”Livro Essencial de Umbanda – Ademir Barbosa Junior
- Cadernos de Umbanda – Omolubá – Pallas – 2a Edição
- Apostila do Curso de Formação Sacerdotal da Federação Umbandista do Grande ABC
- O Que É Umbanda – II – Padrinho Juruá – Edição do Autor
- A dança dos caboclos : uma síntese do Brasil segundo os terreiros afro-brasileiros – Reginaldo Prandi (artigo)