Quimbanda é o nome usado por uma diversidade de religiões de matriz africana que cultuam principalmente, ou em alguns casos até mesmo exclusivamente, exus e pombagiras.
É provavelmente a mais mal vista das religiões afro-brasileiras, sendo alvo de preconceito até mesmo de adeptos de religiões irmãs (como a umbanda e o candomblé), geralmente sendo considerada sinônimo de “magia negra”. Pode-se dizer que quimbandeiro sofre dupla intolerância religiosa: da sociedade em geral (principalmente dos evangélicos neopentecostais) e do restante da comunidade afro-religiosa. Este preconceito, como todos os demais, deriva da falta de conhecimento. Portanto, vamos esclarecer: afinal, o que é quimbanda?
Como dissemos, há uma diversidade de cultos afro-religiosos que adotam este nome. O que há de comum entre eles é que cultuam exus e pombagiras e são independentes de outras religiões. Ou seja, quimbanda não é a “esquerda da umbanda”, nem um “culto de esquerda em que falta a direita”. É uma religião completa em si mesma, com seus próprios fundamentos, que não deixa nada a dever às demais religiões.
Neste texto, vamos falar especificamente de uma vertente de quimbanda praticada no Rio Grande do Sul, às vezes chamada de “quimbanda de cruzeiro e almas”, às vezes de “quimbanda tradicional”.
A quimbanda de cruzeiro e almas tem origem em Porto Alegre, na década de 60, pelas mãos de Mãe Ieda do Ogum e de seu Exu Rei das Sete Encruzilhadas.
Segundo o site de Diego de Oxóssi, sacerdote de quimbanda do Reino de Exu Sete Facadas e Pombagira Cigana das Almas, iniciado por Mãe Ieda:
“A Quimbanda é, portanto, uma religião afro-brasileira independente de quaisquer outras, que surge no Rio Grande do Sul a partir de meados dos anos 1960. Antes desse período outras tradições e religiões já prestavam culto a Exu e Povo de Rua, porém a Quimbanda se firma como religião ao cultuá-los de forma independente, estabelecendo símbolos e ritos iniciáticos, bem como dogmas que a organizam social e religiosamente, com grande influência dos ritos africanistas do Batuque afro-gaúcho.
Além do culto a Exu e sua contra-parte feminina Pombagira, Malandros, Povo Cigano, Caboclos e Pretos Velhos Quimbandeiros e todo o “Povo de Rua”, o principal ponto que diferencia a Quimbanda das demais religiões de matriz africana é a pratica do culto direto às almas de pessoas falecidas e entes queridos – o Culto de Egun – e, com isso, à ancestralidade de seus iniciados, da comunidade em torno do Templo / Terreiro e, porque não, de todo o povo negro do Brasil e Américas.
(…)
A quimbanda tem bases diferentes do espiritismo umbandista ou kardecista; na teologia quimbandeira não existe a evolução dos espíritos no sentido de passagens de graus ou de dimensões e os Exus são tidos como ancestrais tanto por terem vivido antes de nós quanto por serem, realmente, ligados ou à ascendência familiar do médium ou à ascendência do culto/casa em que o mesmo é iniciado.”
Iniciação na quimbanda
A quimbanda é uma religião iniciática. Ou seja, quimbandeiro não é apenas aquele que cultua exu e pombagira. Quimbandeiro é quem é iniciado na quimbanda, em um terreiro, cumprindo todos os ritos necessários.
Qualquer pessoa pode ser iniciada na quimbanda, bastando manifestar o seu desejo. Não é preciso receber um chamado, “bolar no santo” ou algo parecido. Pessoas que não são médiuns de incorporação também podem se iniciar e, nestes casos, cumprirão tarefas diferentes das dos médiuns dentro da religião.
Existem diversos ritos iniciáticos, também chamados de obrigações. À medida que o iniciado passa por eles, ao longo dos anos, estreitará sua ligação com seu exu e sua pombagira e aprenderá mais sobre a religião e sua magia. Até, um dia, se for o seu caminho, tornar-se um sacerdote, abrir o seu terreiro e iniciar novos quimbandeiros, dando continuidade à tradição.
Os ritos iniciados da quimbanda são:
- Cruzamento de Aves;
- Iniciação;
- Batismo de Armas;
- Axé de “Faca de Trabalho”;
- Aprontamento e Assentamento da Entidade;
- Axé de “Faca de Feitura”;
- Coroação;
- Axé de “Faca de Boi”;
- Axé de “Faca de Egun”;
- Liberação ou Governo.
Quem for ser um sacerdote e abrir o seu terreiro, passará por outros dois ritos muito importantes:
- Assentamento do Omoté – o Buraco de Exu;
- Assentamento do Igbalé – a Casa das Almas.
Os Sete Reinos de Exu
Da mesma maneira que a umbanda tem Sete Linhas, a quimbanda tem Sete Reinos, onde os exus são agrupados, de acordo com as suas características, modo de trabalho e fundamentos de magia. Cada reino é comandado por um Exu Rei e uma Pombagira Rainha.
Os Sete Reinos são: Reino da Encruzilhada, Reino do Cruzeiro, Reino das Matas, Reino da Calunga (ou Cemitério), Reino das Almas, Reino da Lira e Reino da Praia (ou Calunga Grande). Além disso, cada reino é ainda subdividido em 9 povos cadas, totalizando 63 povos de exu, cada um com as suas particularidades.
Outras entidades cultuadas
Segundo o livro “Desvendendo Exu”, de Diego de Oxóssi, a quimbanda de cruzeiro e almas admite o culto também de: ciganos, malandros, caboclos quimbandeiros, pretos-velhos quimbandeiros, boiadeiros, baianos e marinheiros. Porém, é rara a manifestação destas entidades, principalmente das três últimas.
Na quimbanda, orixás não são cultuados. É comum que quimbandeiros também sejam iniciados para orixá, mas o fazem em outras religiões, como o candomblé e o batuque, nos quais cultuam as divindades africanas.
Referência
Desvendando Exu – O Guardião dos Caminhos – Diego de Oxóssi – Edição do Autor (1a edição)