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Ob Od Of Òg Oj Ok Ol Ọm Or Os Ot Ov Ox Oy
Orin Orix

Os orixás são as divindades do povo iorubá, cujo culto foi trazido ao Brasil pelos escravos nagô (como eram conhecidos os iorubás em nossa terra), e representam ancestrais divinizados, forças da natureza e, mais raramente, representações zoomórficas.

São os deuses africanos mais populares em nosso país, sendo cultuados em diversas religiões afro-brasileiras, como o candomblé, a umbanda, o tambor de mina, o batuque e outras.

Seu correspondente entre os povos bantos são os inquices e, entre os fon (jeje), os voduns.

Neste artigo, vamos explicar sucintamente o que são os orixás e as diferenças do seu culto na África e no Brasil (neste caso, no candomblé e na umbanda).

Olódùmarè, o deus supremo

No topo do panteão iorubá, está o Deus Supremo, Olódùmarè (também conhecido como Olorum, entre outros nomes), que seria análogo ao Deus da tradição judaico-cristã.

Olódùmarè é considerado muito distante da humanidade e inacessível, não interferindo nas questões da vida cotidiana.

Segundo Pierre Fatunbi Verger, em sua magistral obra Orixás:

É um deus distante, inacessível e indiferente às preces e ao destino dos homens. Está fora do alcance da compreensão humana. Ele criou os orixás para governarem e supervisionarem o mundo. É, pois, a eles que os homens devem dirigir suas preces e fazer oferendas. Olódùmarè, no entanto, aceita julgar as desavenças que possam surgir entre os orixás.

Os orixás

Abaixo de Olódùmarè estão os orixás. Considera-se que há inúmeros, 400 ou mais, dos quais a grande maioria é cultuada apenas em pequenas localidades do território iorubá e alguns são cultuados em praticamente toda a iorubalândia (território em que predominam africanos de etnia iorubá, compreendendo grande parte da Nigéria, parte do Benim e o Togo).

Ao contrário de Olódùmarè, os orixás são mais próximos da humanidade, podem interferir na vida de seus devotos e por isso são cultuados. Considera-se ainda que, através da adoração aos orixás, Olodumare também é adorado, pois o poder espiritual dos orixás vem dele.

Alguns dos orixás, como Obatala (Oxalá) estão relacionados à criação da terra. Já outros, como Oyá (Iansã), orixá do vento e das tempestades, são personificações de forças e fenômenos naturais. Os orixás são cultuados buscando obter uma variedade de vantagens e efeitos práticos: proteção contra inimigos, prosperidade, boa saúde, amor etc.

Há orixás que são considerados ancestrais divinizados, que foram governantes de antigas cidades-estado. Ou executaram grandes feitos em vida, como ter poderes sobre as forças da natureza e que, em vez de morrer, se transformaram, por exemplo, em rios, pedras, árvores, lagoas etc. Após as suas mortes, foram elevados à categoria de deuses. Um exemplo é Xangô, antigo rei de Oyó.

Nem todos os orixás têm origem iorubá. Devido ao intercâmbio comercial e cultural com outros povos, os iorubás acabaram adotando divindades de povos vizinhos, em especial os voduns dos fons (na Brasil conhecidos como jejes), mas mudando os seus nomes e algumas características do seu culto. É o caso do orixá Oxumarê, que originalmente é o vodum jeje Dan. O oposto também aconteceu, com povos vizinhos adotando orixás. Neste caso, o orixá Ogum se tornou o vodum Gu (ou Gun) entre os fon.

Abaixo dos orixás, estão os espíritos dos ancestrais ilustres (Egungun) e dos mortos comuns.

Alguns orixás importantes

Dos inúmeros orixás existentes, os mais conhecidos e cultuados no Brasil são: Exu, Ogum, Oxóssi, Ossaim, Obaluaiê, Oxumarê, Nanã Buruku, Oxum, Logun-Edé, Oyá (Iansã), Obá, Ewá, Iemanjá, Xangô, Iroko, Ibeji e Obatala (Oxalá).

Outros orixás, pouco conhecidos no Brasil, incluem: Orunmila, Oduduwa, Aja, Jakuta, Olokun, Olu-Igbo: orixá dono das matas, Oko, Oranian, Otin, Apaoká e Onilé.

Os orixás na África

O culto a orixá na iorubalândia é complexo. São cultuados orixás muito mais numerosos do que por aqui, vários dos quais os brasileiros em geral não ouviram falar. Além disso, um mesmo orixá pode ter diferentes nomes dependendo da região e a maneira cultuá-lo também pode mudar. Até mesmo o gênero de um orixá pode se alterar. Por exemplo, Olokun, orixá dos oceanos, é feminino na maior parte da iorubalândia, mas masculino em alguns lugares. Mesmo as atribuições e lendas podem sofrer alterações. Em algumas tradições, Obatala (Oxalá) criou a terra. Já em Ilê-Ifé, quem o fez foi Oduduwa.

Originalmente, o culto a cada orixá era restrito a determinas regiões. Por exemplo, Xangô era o orixá do reino de Oyó. Iemanjá era cultuada em Egbá, Ogum em Ekiti e Ondô, Oxum em Ijexá etc. Com o tempo esses cultos foram se espalhando pelo território iorubá e alguns – como Oxalá, Ogum e Exu – são cultuados em toda a iorubalândia. Outros, entretanto, continuam restritos a determinadas cidades e regiões. Por exemplo, Xangô continua pouco cultuado em Ifé, Iemanjá é praticamente desconhecida em Ijexá e assim por diante.

Nem todo orixá incorpora em seus devotos. Por exemplo, na África Ossaim, Iroko e Orunmilá não se manifestam pela possessão (no Brasil, Ossaim e Iroko incorporam em seus iniciados).

Religião dos Orixás: culto familiar a ancestrais divinizados que controlam as forças da natureza

Acredita-se que os orixás deixaram descendentes diretos na terra. Por se considerarem como tal, seus descendentes continuam o seu culto. Por isso, é comum que uma família inteira cultue o mesmo orixá, por exemplo, Ogum ou Obatala. Assim como é comum que, ao se casar, uma mulher passe a cultuar o orixá da família de seu marido. O orixá da família do seu marido será também o orixá dos filhos que tiver com ele.

Segundo Pierre Fatumbi Verger, em sua magistral obra Orixás:

“A religião dos orixás está ligada à noção de família. A família numerosa, originária de um mesmo antepassado, que engloba os vivos e os mortos. O orixá seria, em princípio, um ancestral divinizado, que, em vida, estabelecera vínculos que lhe garantiam um controle sobre certas forças da natureza, como o trovão, o vento, as águas doces ou salgadas, ou, então, assegurando-lhe a possibilidade de exercer certas atividades como a caça, o trabalho com metais ou, ainda, adquirindo o conhecimento das propriedades das plantas e de sua utilização o poder, à, do ancestral-orixá teria, após a sua morte, a faculdade de encarnar-se momentaneamente em um de seus descendentes durante um fenômeno de possessão por ele provocada.”

Sempre mantendo o culto do orixá de sua família paterna, cada indivíduo pode vir a cultuar também outros orixás, de acordo com a orientação de um oráculo. Pode ser que passe a cultuar o orixá de sua mãe, após a morte dessa, ou que lhe seja recomendado cultuar determinado orixá como solução para um problema que o aflige, como doenças, problemas de fertilidade, proteção contra ameaças etc.

Para se cultuar estas divindades é necessário criar o Odú Orixá, no Brasil conhecido como assentamento. Trata-se de um recipiente enterrado no chão, em que são colocados objetos que simbolizam a força do orixá. Nele, receberá oferendas e o sangue de animais sacrificados em sua homenagem.

Possessão

Os orixás são pura força espiritual, um axé imaterial que os seres humanos só percebem quando pelo fenômeno da possessão, quando incorporam em um dos seus descentes. A pessoa que incorpora o orixá é chamado de elégùn, aquele que é “montado” (gùn) por ele. Desta ideia surge o termo “cavalo” para se referir aos médiuns nas religiões afro-brasileiras.

Segundo Pierre Verger:

“Os elégùn muitas vezes são chamados iyawóòrìşà (iaô), mulher do orixá. Este termo tanto se aplica aos homens quanto às mulheres e não evoca uma idéia de união ou de posse carnal, mas a de sujeição e de dependência, como antigamente as mulheres o eram aos homens.”

Orixás no candomblé

O culto a orixá no Brasil é muito diferente do praticado na iorubalândia. São vários os motivos para isso. Em primeiro lugar, ao serem tirados de sua terra natal e escravizados, os africanos tinham condições de vida muito diferentes da original e sem a mesma liberdade de culto, o que resultou em uma ruptura da tradição. Além disso, escravos de diferentes etnias e regiões da África viviam juntos na senzala e a cultura de uns influenciou a dos outros. Por isso, ainda que no candomblé de Nação Ketu se cultuem os orixás do povo iorubá, este culto sofre influência dos fons (jeje), dos bantos e mesmo de etnias de africanos islamizados, como os haussás e mandingas.

Pesa ainda o fato de que no Brasil, durante muito tempo, não se dispunha de alguns elementos de culto abundantes da áfrica, em especial as plantas e ervas. Por fim, há mudanças culturais, em que costumes africanos foram deixados de lado no Brasil, como o hábito de se sacrificar cachorros a Ogum, algo comum na Nigéria até os dias atuais, mas não no Brasil, em que o cachorro é um animal de estimação e não comida.

No candomblé, ao contrário do que acontece na Iorubalândia, o culto a orixá não é familiar nem regional, mas individual. Qual ou quais orixás um devoto cultuará, e para qual irá se iniciar (será “feito no santo”) dependerá não da sua linguagem sanguínea, mas da indicação do oráculo conhecido como jogo de búzios.

Quando o oráculo indica que um indivíduo deve ser feito para um determinado orixá, ele passa a ser considerado “filho” deste orixá, o que mostra uma certa continuação da ideia de que os seres humanos descendem das divindades. Nesses casos, acredita-se também que o orixá influenciará a personalidade do seu filho. Por exemplo, filhos de Ogum tendem a ser brigões, filhos de Oxalá podem ser orgulhosos, de Oxum são mais emotivos e chorões…

Nem sempre esses arquétipos são tão rígidos e uma pessoa pode ter traços de personalidade que, à primeira vista, não correspondem ao do seu orixá. Inclusive porque seus traços de personalidade dependerão, também, da qualidade do seu orixá (veja sobre isso mais abaixo). Além disso, cada pessoa tem um segundo orixá, chamado de juntó, que também influencia sua personalidade e sua vida, ainda que em menor grau. Salvo exceções, o juntó não é incorporado pelas pessoas feitas no santo, sendo apenas assentados.

Assim como na África, cada orixá tem suas particularidades. Seus símbolos, suas cantigas, ritmos de toque dos atabaques e passos de dança. Seus animais e oferendas vegetais, seus dias sagrados, suas roupas e colares de conta. Suas histórias, lendas, rezas, versos. E seus tabus, chamados ewós.

Qualidades de orixás

No Brasil, cada orixá se desdobra em diversas qualidades, que representam particularidades da divindade. Por exemplo, Ogum se desdobra em sete qualidades, entre elas Ogum Megê e Ogum Onirê, cada qualidade com especificidades no seu culto.

Em alguns casos, o que são consideradas qualidades de um orixá no Brasil são originalmente outros orixás na África. É o caso de Ibualamo, que no Brasil é cultuado como qualidade de Oxóssi, mas que na iorubalândia é um orixá totalmente distinto dele, com culto próprio. Caso semelhante é o de Iemanjá Oloxá. Oloxá, originalmente, é o orixá feminino das lagoas e não tem ligação com Iemanjá. No Brasil, contudo, é considerada uma qualidade dela.

Casos como esse provavelmente ocorreram para que o culto a alguns orixás pouco presentes no Brasil na época da formação do candomblé não se perdesse totalmente.

Orixás na umbanda

Em geral, umbandistas não consideram os orixás como ancestrais divinizados, nem acreditam que tenham tido existência terrena. A concepção mais corrente é a de que são seres espirituais puros e elevados que representam e comandam as forças e os elementos da natureza.

Segundo o Curso de Umbanda da Sociedade Espiritualista Mata Virgem:

“A esses espíritos de alta força vibratória chamamos ORIXÁS, usando um vocábulo de origem Yorubana. Na Umbanda são tidos como os maiores responsáveis pelo equilíbrio da natureza. São conhecidos em outras partes do mundo como “Ministros” ou “Devas”, espíritos de alta vibração evolutiva que cooperam diretamente com Deus, fazendo com que

Suas Leis sejam cumpridas constantemente.”

Assim como no candomblé, na umbanda acredita-se que cada devoto é filho de um orixá que influencia a sua vida e personalidade. Assim como também tem um segundo orixá, que exerce influência em menor grau. No caso da umbanda, costuma-se considerar que esses dois orixás são sempre um masculino e um feminino, para haver equilíbrio no “ori” (cabeça) e na vida do indivíduo. À combinação destes dois orixás se chama “eledá”. Nada impede também que o devoto receba influência de outros orixás em cada momento da sua vida.

Alguns umbandistas, em especial os mais antigos, chamam de orixás espíritos elevados e puros que atuam como guias espirituais. Um exemplo seria a entidade conhecida como Orixá Malê, que era incorporado por Zélio Fernandino de Morais, considerado o fundador da umbanda.

Segundo o Dicionário de Umbanda, de Altair Pinto:

“Considera-se na Umbanda como Orixá, toda e qualquer entidade do Astral Superior que, na qualidade de Guia Espiritual, é evocada nos diversos rituais ou trabalhos nos quais se depositam a fé e os altos destinos dessa seita.

(…)

Pela divisão da Umbanda em sete Cortes, coube a cada entidade a incumbência e dirigir, como chefe, o seu setor, designando-se esse chefe pelo nome de ORIXÁ, resultando daí a denominação desse termo, dada aos espíritos superiores que dirigem os diversos planos espirituais, sendo esses chamados os ORIXÁS MAIORES, os quais por sua vez contam com o auxílio dos Orixás Menores que são justamente todos os integrantes da Corte de Aruanda.

Qualquer espírito pode chegar a esse grau máximo, desde que redimido totalmente de suas culpas e, tendo passado pelos vários subplanos e planos da escola hierárquica da espiritualidade, chegue ao ponto primordial da perfeição.”

Em alguns terreiros, no dia a dia chama-se de orixá a qualquer guia espiritual, como pretos-velhos e caboclos.

Segundo Ademir Barbosa Junior, em seu Livro Essencial de Umbanda:

“No cotidiano dos terreiros, por vezes o vocábulo Orixá é utilizado também para Guias. Nessas casas, por exemplo, é comum ouvir alguém dizer antes de uma gira de Pretos-Velhos: ‘Precisamos preparar mais banquinhos, pois hoje temos muitos médiuns e, portanto, aumentará o número de Orixás em terra.’”

Os orixás cultuados na umbanda

Na umbanda, cultua-se um número menor de orixás do que no candomblé. Geralmente, são nove: Oxalá, Ogum, Xangô, Oxóssi, Obaluaiê, Oxum, Iansã, Iemanjá e Nanã.

O orixá Exu não costuma ser cultuado diretamente, mas indiretamente, por intermédio das entidades denominadas exus e pombagiras, que não são divindades, mas espíritos desencarnados. Contudo, alguns terreiros de umbanda cultuam, além dessas entidades, o orixá Exu.

Alguns poucos terreiros de umbanda cultuam mais dois outros orixás: Oxumarê e Ossãe.

Falangeiros dos orixás

Em geral, acredita-se que os orixás propriamente ditos não são realmente incorporados na umbanda. A incorporação destas divindades seria algo restrito ao candomblé e a religiões análogas, como o batuque e o tambor de mina. Na umbanda, incorporam-se os chamados “falangeiros”.

Segundo o Curso de Umbanda da Sociedade Espiritualista Mata Virgem:

“Os Orixás, dentro do culto Umbandista não são incorporados. O que se vê dentro dos vários terreiros, centros, tendas etc, são os falangeiros dos Orixás, espíritos de grande luz que vem trabalhar sob as Ordens de um Orixá. Os Falangeiros incorporam em seus “cavalos” e mostram sua presença e sua força em nome de um Orixá”.

Quando incorporam, os falangeiros vêm em nome do orixá que lhes dá nome e se comportam de maneira similar a ele. E possuem nomes que muitas vezes não tem nada a ver com os nomes africanos dos orixás. Isso é muito evidente nos nomes dos vários Oguns de umbanda, como Ogum Beira-Mar, Ogum Matinata, Ogum Rompe-Mato… Muito embora os nomes de alguns falangeiros de Ogum na umbanda correspondam a títulos africanos do orixá Ogum, como é o caso de Ogum Megê. Há também nomes conhecidos de falangeiros de outros orixás, como é o caso de Oxum Cinda da Cobra Coral, Xangô Gino da Cobra Coral e Xangô Caô.

Referências

African Mythology A to Z – 2nd Edition – Patricia Ann Lynch and Jeremy Roberts – Chelsea House Publishers”

Dicionário de Folclore Brasileiro – Luís da Câmara Cascudo – Ediouro

Dicionário da Umbanda – Altair Pinto – Editora Eco

Livro Essencial de Umbanda – Ademir Barbosa Junior

Dicionário dos rituais afro-brasileiros – LP Baçan

As Mirongas de Umbanda – Dyron Torres de Freitas e Tancredo da Silva Pinto

African Folklore – An Encyclopedia – Philip M. Peek and Kwesi Yankah, Editors – Routledge – New York London

Orixás – Pierre Fatumbi verger – Editora Corrupio

Curso de Umbanda da Sociedade Espiritualista Mata Virgem

Elebo – Magias e oferendas afro-brasileiras – Fernandez Portugal Filho – Editora Isis – 2013