Cabula foi uma religião afro-brasileira surgida nos fins do século 19 que era praticada no Espírito Santo. Ganhou força e popularidade, tanto entre negros como entre brancos, após a abolição da escravidão, em 13 de maio de 1888. Mas acabou por ser extinta, devido à intolerância religiosa e perseguição do governo.
Características gerais da cabula
Suas reuniões eram chamadas de “mesas” e podiam ser de vários tipos, destacando-se a mesa de Santa Bárbara e a de Santa Maria, que se subdividiam em outras. Outra “mesa” era a de São Cosme e São Damião. Essas mesas eram compostas de toalha, velas e imagens e eram colocadas sempre voltadas para o leste. As reuniões também eram conhecidas como engiras.
Seu sacerdote era conhecido como embanda, umbanda ou Pai-de-Terreiro, o qual era auxiliado por ajudantes conhecidos como cambones. O terreiro era chamado de camucite e sua localização era sempre secreta. Os adeptos iniciados da religião eram chamados de camanás ou cafiotos e eram obrigados a guardar sigilo sobre os rituais, sob a pena de morte por envenenamento. Os homens eram chamados de mucambos e as mulheres, de mucambas. Esses termos vêm de “cambas” (kambas) que, no dialeto kimbundo, significa camarada. Os não iniciados eram chamados de “caialos”.
Como trajes, usavam calças e camisas brancas. Na cabeça, usavam um gorro branco chamado gorro camalelé ou camolelê, similar os gorros usados por homens muçulmanos, evidenciando assim a influência dos malês sobre a religião. Ou então lenços amarrados, como os panos de cabeça usados atualmente na umbanda e no candomblé.
Havia também o sincretismo entre santos católicos e orixás yorubás. As suas cantigas (pontos cantados) eram chamadas de “nimbus”, que eram acompanhados por batidas de palmas, ato chamado de “quatan” ou “liquaqua”. Assim como na umbanda, defumações sempre faziam parte de seus rituais. Quanto ao ritual, faziam uso de defumações, velas, espelhos, pedras, cachimbos, infusões de raízes e pontos riscados.
Entidades espirituais
As entidades que dirigiam os cultos eram chamados de Tatás, termo de origem bantu que significa “pai”, mas que também pode significar “grande”. Alguns exemplos de nomes de entidades da cabula são Tatá Guerreiro, Tatá Flor de Carunga, Tatá Rompe-Serra, Tatá Rompe-Ponte.
Além dos Tatás, havia a incorporação do “Santé”, o “espírito principal”. Há poucas informações a respeito do que seria o Santé e que diferença haveria dele para os Tatás. Estudiosos deduzem que seria um “espírito da natureza”, um baculo (ou bacuro). Em uma comparação com a umabanda, é possível afirmar que os Tatás seriam semelhantes às entidades espirituais (caboclos, pretos-velhos, exus etc.), enquanto o Santé seria algo mais próximo aos orixás. Santé também pode ser a abreviação de Santidade, a primeira religião sincrética de que se teve notícia no Brasil, que misturava elementos de tradição indígena com o catolicismo popular.
Iniciações
Segundo relato de Dom João Batista Corrêa Nery, escrito em 1901, as cabulistas tinham “suas iniciações, suas palavras sagradas, seus tatos e seus gestos, recursos particulares para se reconhecerem em público os irmãos”.
Nas iniciações, os iniciandos deveriam mascar uma raiz (não identificada) e tomar um vinho, talvez com propriedades enteógenas. Neles também se friccionava um pó chamado “emba” na testa, nos pulsos e na occipital. Claramente, é “emba” é o mesmo que o conhecido “pó de pemba”, largamente utilizado na umbanda com fins similares.
Cabula é religião precursora da umbanda
O vocabulário adotado e a incorporação de espíritos ancestrais demonstram grande semelhança com a atual umbanda. A cabula pode então ser considerada uma das suas precursoras. Antes disso, pode ter sido precursora da religião que ficou conhecida como Macumba carioca.
Outros significados
Cabula também é o nome dado a um toque de atabaque para Obaluaê e Besseim no candomblé de Nação Angola.
Etimologia
Alguns estudiosos dizem vir do quicongo, kabula.
Outros, como Olga G. Cacciatore, dizem ser uma deturpação do termo “cabala”.
Referências
Dicionário Michaelis
Livro Essencial de Umbanda – Ademir Barbosa Junior
Apostila do Curso de Formação Sacerdotal da Federação Umbandista do Grande ABC
O Que É Umbanda – II – Padrinho Juruá – Edição do Autor
Glossário de Bantuísmos Brasileiros Presumidos – Geralda de Lima V. Angenot, Jean-Pierre Angenot e Jacky Maniacky – 2013