O uso de velas na umbanda, na quimbanda, no catimbó/ jurema etc. é uma influência do catolicismo, que costuma usá-las para homenagear seus santos. Da mesma maneira, são usadas em muitas religiões afro-brasileiras para cultuar orixás e entidades espirituais (caboclos, exus, pretos-velhos…) e fazer trabalhar espirituais. No candomblé, que absorveu menos influência católica, o uso de velas é bem reduzido quando comparado à umbanda, por exemplo. Já nas religiões tradicionais africanas elas não são usadas.
Sobre essa influência católica nos fala o livro Iniciação à Umbanda, de Ronaldo Antonio Linares, Diamantino Fernandes Trindade e Wagner Veneziani Costa:
“O uso das velas comuns, geralmente brancas, na Umbanda chegou até nós pela Igreja Católica tradicional, já que os altares católicos sempre foram iluminados por velas, destacando-se a chamada VELA DE QUARTA, que é confeccionada à mão, e que, além de conter outros produtos, contém também a cera virgem de abelha, clarificada. Esse tipo de vela é fundido graças a sucessivos banhos, que lhe dão aspecto peculiar. É ideal para qualquer trabalho e muito utilizada em obrigações”.
As velas representam a intenção/pedido de quem as acendeu, como se fixassem e prolongassem a energia desta intenção durante o tempo em que permanecem acesas. Além disso, a força ígnea do fogo fornece mais “potência” ao que foi pedido. Elas também se constitui um elo entre o devoto e o plano espiritual, os orixás e os guias espirituais. Por isso, o ato de acendê-las requer concentração e devoção:
Sobre isso, fala o Curso de Umbanda da Sociedade Espiritualista Mata Virgem:
“Muitos médiuns acendem velas para seus guias, de forma automática e mecânica, sem nenhuma concentração. É preciso que se tenha consciência do que se está fazendo, da grandeza e importância (para o médium e Entidade), pois a energia emitida pela mente do médium, irá englobar a energia ígnea (do fogo) e, juntas viajarão no espaço para atender a razão da queima desta vela.”
Se por um lado, acendem-se velas para orixás, entidades e trabalhos espirituais, por outro, costuma-se evitar acender para entes queridos já falecidos em qualquer lugar (principalmente em casa).
Novamente, o Curso de Umbanda da Sociedade Espiritualista Mata Virgem explica o motivo:
“Em contrapartida, aconselhamos que caso se deseje acender velas para um ente querido, já desencarnado, se faça em um lugar mais apropriado (cruzeiro das almas do terreiro, cemitério, igreja) e não dentro de vossas casas; isto porque, ao mentalizarmos o desencarnado, estamos entrando em sintonia com ele, fazendo a ponte mental até ele, deixando este espírito literalmente, dentro de nossas casas. O que não seria o correto, pois estaríamos fazendo com que fique mais “preso” ao mundo carnal, atrasando assim a sua evolução espiritual. Agora ao fazermos isso em um local apropriado, estes locais já possuem “equipes de socorristas” e doutrinadores, os quais irão ajudá-lo na compreensão e aceitação de seu desencarne (morte).”
Em geral, são usadas velas comuns de parafina, embora determinados trabalhos espirituais possam exigir velas de materiais específicos, como cera de abelha, mel (misturado à parafina ou cera de abelha) etc. Segundo alguns sacerdotes, a vela contém em si os quatro elementos: fogo (chama), terra e água (parafina/ cera) e ar (aquecido ao redor da vela).
Alguns sacerdotes aceitam somente as velas de cera de abelhas, como é o caso de Altair Pinto que, em seu Dicionário da Umbanda, diz:
“As velas empregadas nos trabalhos de Umbanda, devem ser exclusivamente de cera de abelhas, sem a menor mistura de qualquer outro ingrediente, pois que se assim não for, apenas prejudicarão os trabalhos, tornando-os sem nenhum efeito.”
Já Omolubá aceita o uso de velas de parafina no dia a dia, mas para obrigações ritualísticas de iniciação recomenda exclusivamente as de cera animal (abelha) ou vegetal (carbaúba, palmeiras…), segundo explica em seu livro Cadernos de Umbanda.
Além da vela palito comum, podem ser usadas velas com duração de queima estendido, como vela de quarta, vela de 7 dias, vela de 21 dias etc.
Outra característica comum é o uso de velas de diversas cores, ou mesmo velas com mais de uma cor (2, 3 ou mesmo 7).
Existem também velas de formatos específicos, cada um adequado a determinados trabalhos espirituais. Exemplos: formato de ser humano, cabeça, caixão, coração, espada, estrela, cruzeiro etc.
Abaixo, segue uma tabela de correspondência entre cores de velas, orixás e entidades espirituais na umbanda. Estas correspondências podem variar levemente de terreiro para terreiro. Em geral, considera-se que a vela branca pode substituir as coloridas, na falta destas.
ORIXÁS
Oxalá: Branca;
Ogum: vermelha;
Xangô: marrom ou vermelha-e-branca;
Oxóssi: verde ou verde-e-branca;
Obaluaiê/ Omolu: branca-e-preta ou amarela-e-preta;
Ibeji: rosa.
Oxum: azul royal ou amarela;
Iansã: amarela;
Iemanjá: azul claro;
Nanã: violeta ou rosa.
ENTIDADES
Se as cores de velas para orixás podem sofrer variações entre diferentes terreiros de umbanda, as cores para as entidades podem sofrer ainda mais. Por exemplo, a cor mais usada para os caboclos é o verde. Mas o caboclo de um determinado médium, pode preferir outra cor.
Pretos-velhos: branca ou preta-e-branca;
Caboclos: verde;
Crianças (erês): rosa, azul ou azul-e-rosa;
Boiadeiros: amarela;
Baianos: amarela;
Marinheiros: azul claro;
Ciganos: mais comumente, azul claro, mas podem usar muitas outras cores. Usam-se também velas de 7 dias com as 7 cores do arco-íris (conhecida como Vela das 7 Linhas);
Malandros: vermelha-e-branca;
Exus: preta-e-vermelha.
Referências
- Livro Essencial de Umbanda – Ademir Barbosa Junior
- Curso de Umbanda da Sociedade Espiritualista Mata Virgem
- Iniciação à Umbanda – Ronaldo Antonio Linares, Diamantino Fernandes Trindade e Wagner Veneziani Costa – Madras
- Dicionário da Umbanda – Altair Pinto – Editora Eco
- Cadernos de Umbanda – Omolubá – Pallas – 2a Edição