Uma onda de intolerância religiosa iniciada em setembro de 2021 resultou em três terreiros de umbanda vandalizados em Sumaré, município no interior de São Paulo.
Caminhos do Axé conversou com Fabiana de Iemanjá, dirigente da Casa de Caridade Pai João de Oyó, que foi procurada pelos dirigentes dos terreiros atacados para mobilizar a comunidade e o poder público em busca de uma solução.
Fabiana relata que, apesar da mobilização da comunidade logo após o primeiro caso, o poder público tem agido com descaso e não trata os ocorridos como crime de intolerância religiosa.
Nessa situação, teme-se que novos casos continuem ocorrendo.
11 de setembro: Terreiro Oxalá e Iemanjá é invadido
O primeiro ataque aconteceu na madrugada do dia 11 de setembro, quando o Terreiro Oxalá e Iemanjá, dirigido por Mãe Mary de Oxalá, foi invadido após arrebentarem o seu portão. Os invasores quebraram e jogaram objetos ritualísticos ao chão, rasgaram roupas de santo e arrancaram o relógio de força da parede.
A polícia foi chamada e um Boletim de Ocorrência foi registrado, no qual constava o crime de intolerância religiosa. Porém, em seguida a polícia cancelou o BO e fez um novo, no qual consta apenas o crime de arrombamento e não mais intolerância.
Uma reunião com dirigentes de terreiros da região foi organizada para discutir o ataque e tomar medidas para evitar novos casos. Entre os presentes estavam um assessor do vereador William Souza (PT) e Eduardo Brasil, presidente do Fórum de Sacerdotes e Sacerdotisas de Matriz Afro do Brasil (Foesp). Porém, nenhuma providência foi tomada pelo poder público.
“Nós tentamos mostrar que isso é um ato de intolerância [religiosa]. E trazer o poder público de Sumaré para que não houvesse o segundo ato. Mesmo assim, aconteceu”, diz Fabiana.
A reunião foi gravada e pode ser assistida no link: https://www.facebook.com/story.php?story_fbid=545000553252399&id=100032273778679.
Veja fotos do ataque:
7 de outubro: segundo ataque vandaliza a Casa Pai João da Guiné
Menos de um mês depois, aconteceu o segundo ataque. A Casa Pai João de Guiné, dirigido por Pai Wesley de Oxóssi, foi invadido e vandalizado.
Fabiana publicou dois vídeos nas redes sociais sobre o caso e tentou mobilizar o poder público, mais uma vez sem sucesso.
Segundo ela, a única resposta que obteve, por parte de uma assessora do prefeito da cidade, foi a recomendação de que os terreiros contratassem seguranças particulares.
“Totalmente fora da nossa realidade. Porque a gente sabe o quanto é difícil um terreiro colocar um segurança particular. E nosso Estado é laico, nós temos direito a segurança pública”.
Veja fotos:
Novembro: terreiro da Mãe Dani tem fachada vandalizada
O terceiro episódio foi a tentativa de invasão do terreiro de Mãe Dani. Nesse caso, não conseguiram invadir o templo, mas vandalizaram a sua fachada.
Carro é avistado rondando os terreiros
Ainda segundo Fabiana, um carro de modelo GM Corsa tem sido avistado rondando os terreiros da cidade e seu motorista é visto tirando foto de filhos de santo e consulentes em dias de gira.
A placa do carro foi fotografada e, ao consultá-la no Detran, descobriu-se que ela na verdade pertence a um GM Meriva. Segundo o Detran, a situação do veículo consta como “sem registro ou alerta de roubo/ furto”. O que leva à conclusão de se tratar de uma placa fria.
Por que esses casos não são tratados como intolerância religiosa?
Sobre essa onda de ataques, Fabiana conclui:
“O que nos assusta é que a polícia não considera que lugares de oração, casas de santo, quando quebrados e destruídos, que isso seja intolerância religiosa. Parece que estão esperando algum pai ou mãe de santo estar com corpo estendido no chão. Lamentável ver uma nação que se diz laica e ter que passar por isso. Cada gira é um medo!”