Como e por que esse ser espiritual faz parte da nossa religião? E como firmar o Anjo da Guarda?
Uma das primeiras coisas que se aprende ao ser aceito em um terreiro de umbanda como filho-de-santo é firmar o de Anjo da Guarda. Isso é uma realidade na maior parte das vertentes de umbanda. Mas por que existe Anjo da Guarda na nossa religião e como ele é interpretado?
A umbanda é uma religião sincrética e híbrida, resultado do encontro de diversas tradições culturais e espirituais que se misturam e influenciam umas às outras. Basicamente, são três as tradições que deram origem à umbanda:
- A tradição africana (especialmente, influências de etnia bantu e iorubá);
- A tradição ameríndia (indígena);
- A tradição cristã (especialmente, o catolicismo popular e o espiritismo).
- Leia também: Como saber quais são meus orixás na umbanda?
Nestes tempos em que muitos tentam transformar a umbanda em uma religião puramente africana, o que ela nunca foi (pois que é afro-brasileira), é importante reforçar que a influência cristã faz parte da religião tanto quanto as demais.
O Anjo da Guarda é uma herança da tradição cristã. Da mesma forma como católicos rezam e acendem velas para o seu Anjo da Guarda, a maioria dos umbandistas também o faz. Contudo, o significado desse ato é reinterpretado em nossa religião.
Mas, enfim, o que é o Anjo da Guarda na umbanda?
É difícil, senão impossível, dar uma resposta definitiva a essa pergunta. Há muitas interpretações, dependendo da vertente e do entendimento de cada mãe ou pai de santo. Aqui vamos resumir algumas teorias.
Teoria 1: É exatamente isso, um anjo!
Nessa teoria, a interpretação é a mesma do catolicismo. É um anjo que Deus designou a cada um de nós para nos guardar e proteger.
Teoria 2: É o seu mentor espiritual ou guia de frente
Essa é uma teoria com maior influência do espiritismo. Segundo a doutrina espírita, o Anjo da Guarda é o mentor do médium. Ou, como diríamos em umbanda, o seu guia de frente. Por exemplo, Emmanuel seria o Anjo da Guarda de Chico Xavier, pois era o seu mentor. No caso de umbandista, se o seu guia de frente for, por exemplo, o Caboclo Pena Branca, esse seria o seu Anjo da Guarda.
Teoria 3: É o exu do médium
O Anjo da Guarda é sempre considerado um ser espiritual responsável pela proteção do médium. Exu cumpre a mesma função e por isso alguns o chamam de “guardião”. Por isso, alguns consideram que se tratam do mesmo ser.
Teoria 4: É o mesmo que ori
É importante salientar que falar em ori na umbanda é uma tendência relativamente recente. Ori é um conceito importante no culto a orixá, seja o tradicional (Isese Lagba ou Esin Orisa Ibile), seja o candomblé. Tradicionalmente, na umbanda fala-se mais em “coroa” (que é semelhante a ori, mas não é a mesma coisa).
Ori é uma palavra do idioma iorubá que significa “cabeça”. É também um orixá. O único que está 100% do tempo com cada um de nós, do nosso nascimento à nossa morte.
De fato, há semelhanças entre o conceito de Ori e de Anjo da Guarda. Assim como há diferenças. Algumas pessoas consideram que as semelhanças são suficientes para dizer que se trata da mesma coisa.
Teoria 5: É o seu orixá de frente
Também há quem diga que seu orixá de frente é o seu Anjo da Guarda. Nesse caso, se você é filho de Oxóssi, esse orixá seria o seu Anjo da Guarda, por exemplo. É uma teoria semelhante àquela que faz a equivalência entre o Anjo da Guarda e guia de frente (mentor).
Teoria 6: É um mistério
Outra teoria afirma que Anjo da Guarda é um mistério e não pode ser explicado. Poderia ser inclusive uma energia totalmente diferente do Anjo da Guarda do catolicismo, mas que aceita ser chamada por esse nome na umbanda, para fins de facilitar o culto. Nesse caso, em vez de teorizar sobre esse ser espiritual, prefere-se apenas se focar nos efeitos da sua firmeza na vida do médium.
Por que firmá-lo?
Como médiuns umbandistas, aprendemos a firmar o Anjo da Guarda semanalmente e nunca falhar nessa obrigação. Mas por que isso é tão importante?
Há alguns motivos. Vamos entender o que esse ato proporciona:
- Atrai vibrações espirituais elevadas (divinas);
- Consequentemente, harmoniza os pensamentos e emoções do médium;
- Atrai a presenças dos seus guias espirituais (de qualquer banda) e de seus orixás;
- Protege contra a presença de espíritos negativos (kiumbas) e energias que possam nos prejudicar.
Então, a prática básica do médium de umbanda é cuidar do seu Anjo da Guarda, independentemente do que ele realmente seja. Essa firmeza nos ajuda com todos os demais trabalhos e fundamentos dentro da umbanda.
Como firmar o Anjo da Guarda?
Chegamos à parte prática. Alguns detalhes podem mudar um pouco de vertente para vertente, mas é sempre um ato ritualístico muito simples.
Acenda uma vela branca (palito ou de sete dias) ao lado de um copo d´água. Faça então uma oração para o seu Anjo da Guarda. Essa oração pode ser espontânea, com as suas palavras, ou uma oração tradicional (inclusive as católicas servem muito bem). Após orar para o seu Anjo da Guarda, fique alguns instantes sentindo a vibração que foi atraída.
Quando a vela terminar de queimar, despache a água. Pode ser na própria pia.
Sim, é apenas isso!
Algumas pessoas colocam um pouco de mel ou açúcar cristal no copo d´água, por serem elementos atrativos. Não é fundamental, mas também pode ser feito.
Antes da firmeza, convém fazer um banho de folhas para estar de “corpo limpo” para a sua prática espiritual.
E você? Já firmou seu Anjo da Guarda essa semana?
Foto: Christophe Van der waals no Unsplash