Como saber quais são meus orixás na umbanda?

Como saber quais são meus orixás na umbanda? Caminhos do Axé.

Conheça os métodos para descobrir seu orixás de frente e juntó na umbanda

Ao visitar um terreiro de umbanda, é comum que o consulente expresse a seguinte dúvida: “qual é o meu orixá?”.

Essa é uma curiosidade legítima, mas sobre a qual há muito o que se falar. Tanto sobre COMO descobrir seus orixás, assim como QUANDO saber essa informação. E também POR QUE é necessário (ou não) saber isso. Esse artigo busca responder essas dúvidas.

Mas antes de tudo é importante enfatizar que este artigo não é sobre candomblé. Logo, nada aqui está relacionado a essa religião, que tem seus próprios fundamentos e costumes. No candomblé, a resposta é mais simples: o método para saber seus orixás é o jogo de búzios. Posteriormente, no momento da sua feitura-de-santo, a informação do jogo é confirmada ou não.

Na umbanda, os métodos são mais variados, dependendo muito da tradição de cada terreiro. Muitos desses métodos são bastante bem fundamentados e dão respostas certeiras. Outros, são bastante “criativos”, mas carecem de fundamentação espiritual. Este artigo aborda vários desses métodos, tanto os que são considerados “válidos” como os que não são.

Por que saber quem é seu orixá?

Antes de tudo, é fundamental lembrar que a maioria das pessoas não tem nenhuma necessidade de saber que orixás o regem. Um simpatizante da religião ou alguém que frequenta como consulente não precisa saber de que orixás ele é filho. Afinal, essa pessoa vai usar essa informação para que? No máximo para compartilhar um meme sobre o orixá de quem ele(a) acredita ser filho(a) e dizer: “tão eu”.

Essa é uma informação que deve ser dada a quem é filho-de-santo de um terreiro, que integra uma corrente mediúnica. E que será usada no seu desenvolvimento mediúnico. Por exemplo, um médium que sabe que é filho de Oxóssi irá buscar estreitar sua relação com esse orixá, mais do que com outros orixás que não sejam seus regentes.

Enquanto o filho-de-santo ainda não sabe quem são os seus orixás, ele é considerado filho das sete linhas. Na realidade, mesmo após saber que orixás o regem, ele irá sempre estreitar a sua relação com todas as linhas, independentemente de com quais ele tenha mais ou menos proximidade.

Quando e como os orixás de um filho-de-santo serão apurados varia da tradição de cada terreiro. Isso será abordado abaixo, ao longo do resto deste artigo.

Quantos orixás eu “tenho”?

Pode-se considerar que todos têm influências de cada um dos orixás cultuados na tradição do seu terreiro. Porém, algumas influências serão mais fortes do que outras.

O orixá que exerce a maior influência na vida do médium de umbanda é o seu orixá de frente. É a ele que as pessoas se referem quando dizem frases como “sou filho de Ogum”, por exemplo. O segundo orixá a exercer maior influência é o adjunto ou juntó. Que geralmente “equilibra e complementa” a influência do orixá de frente.

É comum que esses orixás formem um par masculino-feminino, como Ogum e Oxum, Iemanjá e Oxóssi etc. Mas essa não é uma regra absoluta e é possível encontrar médiuns em que tanto o orixá de frente como juntó serão masculinos ou femininos (por exemplo, Ogum e Oxóssi, Iemanjá e Oxum).

Em muitos terreiros, considera-se também um terceiro orixá, denominado ancestre ou ancestral. Que, como o nome diz, está ligado à ancestralidade do médium e o acompanha em todas as suas encarnações. Porém, não são todas as doutrinas de umbanda que consideram a existência desse terceiro orixá.

Há ainda outras doutrinas umbandistas que consideram mais orixás regendo o médium e isso pode variar muito de vertente para vertente. O que não muda nunca é considerar a existência de orixá de frente e juntó.

Qual é o momento para saber os meus orixás?

Essa é uma questão que depende da doutrina de cada terreiro.

Em alguns terreiros, busca-se apurar quais são os orixás do novo filho de santo assim que ele entra para a corrente mediúnica. Pois essa informação será importante para o seu desenvolvimento dentro da tradição e das práticas do terreiro.

Por exemplo, nos terreiros que praticam a doutrina da Federação Umbandista do Grande ABC (FUGABC), os orixás do filho de santo são apurados no momento do seu batismo (obrigação de Oxalá).

Em outros terreiros, isso não é feito no momento de entrada do novo filho de santo no terreiro. Nestes terreiros, é dito que no começo do desenvolvimento todos são filhos das sete linhas. E o filho de santo será desenvolvido em todas elas.

Aos poucos, as suas próprias manifestações mediúnicas já darão pistas de quais orixás o regem. E esses orixás então serão confirmados em algum rito de passagem que marque a sua maturidade mediúnica. Em alguns terreiros, este ritual é chamado de coroação, em outros de camarinha. Pode haver outros nomes também.

Como faço para descobrir quem são meus orixás?

Os métodos para responder essa pergunta também variam muito para cada doutrina e cada terreiro. Alguns são mais comuns, como os a seguir. Dois deles são métodos que fazem uso de oráculos. Enquanto os outros três são métodos que dependem da mediunidade do dirigente e/ou do filho de santo.

Jogo de búzios

Por mais que muitos digam que não existe jogo de búzios na umbanda, é fato que há vertentes que fazem isso desse oráculo. Essa questão foi abordada anteriormente neste artigo.

Um dos usos deste oráculo é justamente apurar quem são os orixás do filho de santo. Em vertentes como a umbanda omolokô, isso costuma ser feito assim que o filho entra para o terreiro. Às vezes, pede-se para que sete pais e mães de santo diferentes joguem os búzios, para não restar qualquer dúvida.

Na tradição da FUGABC, esse é o método usado no momento do batismo do filho-de-santo, como já mencionado acima.

O jogo de búzios é o método mais tradicional para se apurar os orixás de uma pessoa. E pode ser usado na umbanda, se isso fizer parte da sua vertente. É importante frisar, porém, que ninguém pode aprender esse oráculo como autodidata. É necessário que o direito do jogo seja passado de sacerdote para sacerdote, exigindo-se uma iniciação para tal.

Jogo de obi

Um método menos comum e tradicional para se descobrir o orixá de um filho de santo é o jogo de obi. Obi é como se chama a noz de cola. Que no culto a orixá é usado como oráculo para diversas finalidades.

Esse método parece ser mais comum em terreiros de umbanda de Santa Catarina. Nestes terreiros, o pai de santo primeiro tenta “adivinhar” quem é o orixá do seu filho de santo e depois confirma com o jogo de obi.

Por exemplo, imagine que o pai de santo ache que seu filho de santo tem jeito de ser filho de Ogum. Ele então pede que os ogãs toquem pontos de Ogum, enquanto ele consulta o obi para obter confirmação. Caso o obi responda que não é, ele repete o mesmo procedimento para outro orixá. E assim continua, até obter uma confirmação positiva.

Leitura da coroa mediúnica

Neste método (e nos próximos) não se faz uso de nenhum oráculo, mas somente da mediunidade.

Em muitos terreiros, é o guia-chefe do pai ou da mãe de santo que revela os orixás dos seus filhos de santo.

Em geral, o filho-de-santo fica um determinado período de preceito (geralmente sete dias). Então, no dia da gira, o guia-chefe coloca a sua mão sobre a cabeça do filho-de-santo e “lê” a sua coroa mediúnica. Fazendo isso, consegue dizer quem são seus orixás.

O próprio guia do médium fala

Neste outro método, após um período de desenvolvimento mediúnico, é o próprio guia-chefe do filho-de-santo que diz quem são seus orixás. Normalmente, não há um tempo certo para que o guia dê essa informação. Tudo irá depender do desenvolvimento do médium. Para uns será mais rápido, para outros mais devagar. Em geral, o guia-chefe do dirigente do terreiro terá que confirmar se o que o guia falou está correto ou não.

Manifestação mediúnica do orixá

Finalmente, em alguns terreiros, em determinado momento do desenvolvimento mediúnico do filho de santo, é realizado um ritual em que serão chamados os seus orixás. E será a própria manifestação do orixá, dentro de um contexto ritualístico específico, que dará essa resposta.

Métodos sem fundamentação

Observam-se em terreiros muitos “métodos” sem qualquer fundamentação para apurar os orixás do filho de santo. Esse artigo não seria completo sem falar de alguns deles.

Um guia conta durante uma consulta

Nessa situação, o filho de santo passa por uma consulta com um guia espiritual e esse guia diz “você é filha de Iansã”. Muitas vezes faz isso para quem nem integra uma corrente mediúnica e é somente um consulente, para quem aquela informação não fará diferença alguma em sua vida.

Quase sempre, a informação está errada. E isso pode acabar atrapalhando o desenvolvimento mediúnico do filho-de-santo. Eventualmente, é possível que o guia realmente veja um orixá próprio do filho-de-santo, não necessariamente será o seu orixá de frente. Muitas vezes, será apenas um orixá que está mais próximo dele naquele momento.

Mesmo nos casos em que a entidade acerta (sim, acontece), é importante haver confirmação daquela informação em um método com mais fundamento.

Numerologia/ cálculo de odu

Alguns terreiros de umbanda tomam emprestado do candomblé um método de numerologia para calcular o odu do filho-de-santo. E deduzem seu orixá a partir de quais orixás estão ligados a esse odu.

O cálculo de odu por numerologia não faz parte do culto tradicional (yorubá) a orixá. E, embora exista no candomblé, não é usado para descobrir os orixás de ninguém. Usá-lo para esse fim é, portanto, uma deturpação.

Astrologia e cartomancia

Alguns terreiros com maior influência do esoterismo europeu adotam a astrologia para determinar os orixás. Assim, alguém pode receber respostas como “se você é sagitariano, seu orixá é Xangô”. Porém, o culto a orixá é de origem yorubá e nada tem a ver com astrologia européia.

O mesmo raciocínio em relação à astrologia vale para a cartomancia. Tarot, baralho cigano e outros baralhos oraculares nenhuma relação têm com a religião de orixá. Mesmo baralhos como o “tarot dos orixás” não dão essa resposta. São excelentes oráculos, mas para outras finalidades. Nunca para apurar os orixás de uma pessoa (e nem as suas entidades).

Auto-análise e características de personalidade

A sua personalidade não segue à risca, necessariamente, os “arquétipos” dos filhos de orixás. Portanto, fazer auto-análise e se “identificar” com as características de um orixá não é suficiente para saber quais orixás regem uma pessoa. O fato de alguém ser brigão não significa que seja de Ogum. Se tiver muita vaidade, não quer dizer que seja de Oxum. Se for calmo, nem sempre é de Oxalá. E assim por diante.

“Gostar muito” de um orixá

O mesmo raciocínio vale para o fato de alguém “gostar muito” de um orixá. Isso não dá nenhuma indicação de quais são as suas regências. Por exemplo, o autor deste artigo ama Iansã, mas não a tem como um dos orixás que o regem.

Testes online

Este método nem deveria precisar ser abordado. Mas como muita gente parece confiar neles, é importante falar. Testes online (em sites, no Facebook ou outros) obviamente dão respostas completamente aleatórias. Logo, não possuem validade espiritual alguma.

Agora que você já sabe as maneiras como é possível descobrir seus orixás na umbanda, outra dúvida que pode restar é: “como saber quem são minhas entidades? Meu caboclo, meu exu etc.”. Mas esse será o tema de um próximo artigo…

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